top of page

Search results

111 items found for ""

Blog Posts (75)

  • We Grant Authoritarians Power by Fearing Authorship

    You can read this article in english here. “É privilégio dos Deuses não querer nada, e dos homens endeusados quererem pouco” (Diógenes) Anarco-transcriação, meu primeiro livro, é sobre como criar quando você não é ou não deseja ser um Deus, ou um homem endeusado. As fontes nele contidas vêm do contexto de publicação de um projeto de tradução, que é minha área profissional, mas os princípios podem ser aplicados a qualquer projeto que você precise (ou queira) realizar com mais pessoas do que apenas você mesma. Nenhum ser humano é invencível – muita coisa está fora do nosso controle e não há escudo contra a repreensão. Mas na busca pela invencibilidade, uma de duas ferramentas é geralmente empregada – controle forçado/coercitivo de outros, ou auto-isenção de responsabilidade e iniciativa. A primeira, sobre exercer controle, com a qual estamos bem familiarizados no discurso político global, orbita percepções de Autoridade, Autoritarismo e Hierarquia. A tentativa de se tornar invencível através do uso da força é a base para a criação de Estados-nação e das suas forças armadas. A segunda me interessa mais porque é pouco reconhecida. É quando nos esquivamos de responsabilidade, delegando responsabilidades a outras pessoas. O medo do fracasso ou do escrutínio não só é um obstáculo maior à autogestão do que 'as Autoridades', mas é também o método através do qual entregamos Poder às forças autoritárias. Dessa forma, nenhuma das nossas criações é vencível, porque nenhuma dessas criações são realmente nossas. O medo da autogestão é o que leva alguns de nós a pensar que votar em representantes é a forma mais importante de atuação política, com queixas ocasionais quando, inevitável e repetidamente, os testemunhamos sendo incompetentes. Vemos os políticos falharem, isso nos frustra, no entanto, nos sentimos seguros por não ter que assumir, por conta própria, certas responsabilidades, e arriscar falhar também. Na minha experiência como editora, tem sido fácil identificar quando uma escritora tem medo de fazer sua própria declaração, se escondendo atrás de citações após citações de outros escritores, nem mesmo assumindo autoria sobre sua curadoria. Essa é a diferença entre dizer “Esta é a declaração da minha tese, e estas são as fontes que utilizo para sustentar esta afirmação”, versus, “Esta tese é sobre o que estes pensadores afirmaram”. Quando se trata de gestão (de uma comunidade, organização ou projeto grande), executar por conta própria (autogestão) significa assumir responsabilidades e tomar decisões com outros, em vez de delegar a responsabilidade de uma decisão a uma figura de autoridade. Isso não significa nos transformar em uma Autoridade, mas assumir a responsabilidade por certas decisões e ações em projetos específicos. Eu chamo isso de Autoria. Nas estruturas sociais aspirantes ao Anarquismo, há uma aversão ideológica à Autoridade, mas isso não significa que a dinâmica hierárquica não se forme insidiosamente. Pessoas que desejam o poder e pessoas que o temem talvez se unam facilmente, mas o conflito também pode surgir aqui. Isso acontece porque as pessoas que temem a autogestão não têm necessariamente medo de criticar aqueles que governam ativamente. Existem lutas pelo poder entre pessoas que querem governar todos, e ciclos intermináveis ​​onde nada acontece entre aqueles que temem assumir responsabilidades. Todas as configurações estão sujeitas a confusão. A autoria é uma prática anarquista, porque exige e é um exercício de autogestão. Quando escrevi: “se você precisar de ajuda com seu projeto, ele não é mais só seu” estava pensando na autoria literal de um livro, ao mesmo tempo que colaboramos com designers, gráficas e todas as outras facetas de uma publicação. No capitalismo, precisar de ajuda para um projeto não significa compartilhar a autoria pelo simples fato de que o dinheiro pode comprar os frutos do trabalho; como tal, tudo o que eu compro, torna-se meu. O homem acumulando riqueza é o homem se tornando semelhante a um Deus e querendo pouco. Ainda não se sabe onde o sistema capitalista funciona. No contexto das publicações anarquistas impressas, a negociação da autoria é uma prática contínua inevitavelmente atravessada pela questão do dinheiro. Normalmente, quem tem o dinheiro é quem tem a Autoridade. Mas existem inúmeras oportunidades para encorajar o exercício da autogestão em grandes projetos com orçamentos limitados. Como eu disse antes no livro, não há garantias. Não existe um caminho estabelecido por um ancião anarquista a quem delegamos a responsabilidade de decidir o que precisa ser feito, a quem delegamos a responsabilidade de definir o que é a coisa “correta” a fazer. O exercício da autogestão exige coragem individual, talvez hercúlea. A coragem necessária para se 'autogovernar' não tem a ver com a adoção da revolução armada ou de qualquer outro método de força. Acredito que se os grupos revolucionários tivessem o apoio total da população, as instituições autoritárias que devem ser minadas poderiam simplesmente ser feitas obsoletas. E que se não tiverem o apoio total da população e optarem por assumir o poder à força, é apenas uma questão de tempo até que esses grupos também sejam sujeitos a resistência de movimentos revolucionários. Uma revolução da narrativa, para mim, é uma forma de alcançar um consentimento mútuo duradouro entre uma população, e isso exige que a população seja politicamente alfabetizada em autogestão. Alguns dizem que isso é inalcançável, mas considerando a quantidade escandalosa de riqueza, recursos e tecnologias que as potências ocidentais acumularam ao longo do último século, me parece que essa impossibilidade reside mais na falta de disposição do que na falta de opções. Se, neste ponto do texto, você continua esperando que eu te diga quais são essas opções e como as praticar, o conceito de autogestão ainda não está claro para você. Uma das críticas mais comuns ao Anarquismo como ideologia é que ele não define claramente como será uma sociedade anarquista – quais instituições farão o que, e serão dirigidas por quem, como... Alguns anarquistas se envolveram nisso, o que apenas frustra ainda mais as pessoas que desejam orientações claras. Isso se deve a uma razão simples: a autogestão não pode depender da intervenção de uma autoridade externa. Em outras palavras, se você precisa ser dito o que escrever, você não tem a autoria. Aqui, não estamos discutindo a criatividade. Muitas pessoas criativas têm dificuldade em criar projetos ou em abster-se de delegar responsabilidades a figuras de autoridade. Estamos falando de um estado de espírito em que escolhemos buscar possibilidades. Normalmente, isso acontece quando se testemunham eventos revoltantes liderados por forças autoritárias; assim, somos motivados a pensar em alternativas, estratégias de resistência. Idealmente, o horror e o desastre não deveriam ser uma necessidade nesse processo, mas a situação é ainda mais terrível. A tragédia constante não tem sido um motivador suficiente. Então, o que será suficiente? ______ Mirna Wabi Sabi é escritora brasileira, editora do site Gods and Radicals e fundadora da Plataforma9. É autora do livro Anarco-transcriação e produtora de diversos outros títulos da editora P9.

  • Thai Water Magic and Prosperity Religion

    Thailand is a unique and proud country. Its languages and spirituality stem from a particular intersection between Pali, the sacred language of Theravada Buddhism, and Sanskrit, the sacred language of Hinduism. The Thai monarchy is prominent, and a focus on wealth emanates from not just the culture as a whole, but specifically from people’s spiritual devotion. Any tourist in Thailand is prone to get “templed-out”; there are so many temples, of all sizes and in every corner, that, even in short trips, a foreigner may feel like they’ve had enough and have lost track of which ones they’ve visited. These temples, which are often newly built and thoroughly maintained with white paint and gold leaf, are by no means made for the foreign gaze. In fact, non-practitioners should be made to feel like intruders, surrounded by locals worshipping passionately. This Thai paradigm thoroughly deconstructs the dominant perception in the West that spiritual and material riches are at odds with each other, that all wealth (or a desire for it) is a reflection of soul-less capitalism. It seems to me that the expat community in Thailand is largely composed of white men who married Thai women. The issue of sex tourism, in combination with a newly instated lift on weed criminalization, gives some spots of Bangkok a vivid red-light Amsterdam vibe. And even though there is widespread religious conservatism perceiving these expressions of drug-use and sex-entertainment as taboo, the vision of wealth and material prosperity somehow trumps other aspects of religious morality. Perhaps wealth and prosperity are significant parts of Thai devotion, and are not necessarily at odds with other spiritual practices and beliefs. Temples have safes, there is no shortage of gold, and both money and gold leaf are ritualized. This, in itself, is far from unusual to anyone who grew up witnessing Catholic devotion, and the ornate set-up of cathedrals. But what stood out to me, due to my fascination with mini ponds, is the amount of expensive water features in public spaces. “Water plays an important role in many religions” (page 5), and the idea of holy water is familiar enough to Christians. But in Thailand, water features seem to go beyond the realm of temple; they have a personal function, and are implemented at every opportunity. Ceramic potted ponds with gorgeous (and pricey) water lilies, water pumps for fountains, reflecting pools etc, are everywhere. Not to mention city-wide festivals, which are all about throwing water at everyone and everything on the streets. Thai tradition clearly observes water in a particular way. When inquiring about why so many entrances of establishments have small but lavish water features, people explain it in different ways. Expats will say it’s just pretty, or it comes from Feng Shui. Some locals will say that, traditionally, it was common to have water available for people to drink during drought season, or for people to wash their feet before entering the house. And some will say frankly – it is something that attracts wealth. A 2022 paper from Naresuan University, named “Water” in the Regime of Thai Traditions and Rituals, describes this observance of water as stemming from “great” and “little” traditions – “great” as in from Buddhist and Hindu scriptures, and “little” as in from farming and ancestry. Obviously, farming requires water, but rice farming, in particular, requires flooding. Rice doesn’t need flooded land to thrive, but it does thrive in it while other plants don’t. So, historically, this staple of the Thai diet has informed Thai culture and how it approaches the ebbs and flows of drought and rain seasons; the comings and goings of water as a practical approach to prosperity and abundance. The Isan people of northern Thailand, for instance, are said to consecrate water in a ritual for rice growing (page 116). Water, in Thai tradition, as it observes Buddhist and Hindu scriptures, symbolizes “the medium to connect this worldly to the sacred world”. Water is a Goddess named Phra Mae Thorani, who is portrayed in the logos of water distribution companies all over Thailand and of the country’s oldest political party. Water is also where Nagas live (page 30), mythical beings which protect treasures, among other things. According to ancient Thai legend, snakes, as the animist representation of these deities, are not to be feared but to be admired. Though they may represent danger when angered, they may also grant wishes of wealth and prosperity. This is perhaps the most apt representation of a bifurcation in wealth seeking – prosperous agency, or exploitative greed. Nagas can bring you rain, and it will either water your crops or flood your home; a reminder to always nurture a righteous heart when seeing riches. Alongside water and its fauna, flora seems to hold tremendous spiritual significance in Thai folklore. Aquatic flowers such as the lotus (Nelumbo nucifera) and the water lily (Nymphaea) are also symbolic in both Buddhism and Hinduism, and they are named the same in Thai (ดอกบัว). Water lilies, in particular, can be widely seen in ceramic potted ponds surrounding temples, shrines, royal buildings, and even store fronts in Thailand’s major cities, usually accompanied by small beta fish, which are native to the country. None of these water features, with or without fish, seem to have mosquito larvae; they sometimes have tadpoles, snails or backswimmers (when they are not chemically treated or are mechanical fountains). A pink cultivar of the Nymphaea, native to Thailand, is named after Nang Kwak, the goddess of fortune. This “Beckoning Lady has long been used by low-level merchants and vendors, and is the one charm whose initial meaning lay with the market” (page 365 of the article The Sacred Geography of Bangkok's Markets). In this research, the author describes ‘mercantile spirituality’ as nothing new, though its popularity has increased in recent decades. A modern ‘prosperity religion’ shows that, in light of a rapidly expanding capitalist landscape, spirituality, folklore and tradition are not at odds with modernity. Thai culture shows how animism and polytheism are contemporary spiritual practices by definition. In the West, where monotheistic religions have brutally instated themselves as the norm, paganism is so often framed as of the past, and its practitioners reduced as historical reenactors. But framing Buddhism as a replacement of paganism, for instance, is completely irrelevant and inadequate when observing the civic religion of Thailand. The amalgamation of Thai folklore, Buddhism and Hinduism is anything but waned in the face of rampant metropolization. There is nothing inherently contradictory about bringing these spiritual traditions and beliefs into the realm of contemporary capitalist societies, in fact, they may be a lifeline in the soullessness of major cities. Mirna Wabi-Sabi Mirna is a Brazilian writer, site editor at Gods and Radicals and founder of Plataforma9. She is the author of the book Anarcho-transcreation and producer of several other titles under the P9 press.

  • Capitalism in the Digital Era of Language Models

    "It’s hard to accept that we are trying to make a living within a global market that’s a Casino. Instead, it’s easy to subscribe to business gurus and generic finance tips that don’t address the fundamental question of how to achieve an authentic and fulfilling existence in this world." By Mirna Wabi-Sabi Companies are constantly trying to be at the vanguard of digital marketing and, every day, a new business strategy is launched. The endurance of Capitalism relies on our belief that our financial endeavors will be successful if we put in the hours and learn to utilize all these digital tools, which are constantly changing and multiplying. Search Engine Optimization (SEO) has been the darling tool of digital marketing for the past few years, until it was, since 2019, proverbially replaced by BERT, a Google language model which relies less on keywords and terms by interpreting more context. But by the time a tool is democratized (meaning, made widely accessible), it in essence ceases to be effective. The capitalist market, just like google searches, needs the competition for limited top spots. Continue reading this piece, in english, at: A Beautiful Resistance Empresas sempre procuram estar na vanguarda do marketing digital e, a cada dia, uma nova estratégia de negócio é lançada. A sobrevivência do capitalismo depende da crença de que os nossos empreendimentos serão bem-sucedidos se dedicarmos muitas horas e aprendermos a utilizar todas essas ferramentas digitais, que estão em constante mudança e multiplicação. O Search Engine Optimization (SEO) tem sido a ferramenta queridinha do marketing digital nos últimos anos, até ser, desde 2019, proverbialmente substituído pelo BERT, um modelo de linguagem do Google que depende menos de palavras-chave e termos, interpretando mais o contexto. Mas quando uma ferramenta é democratizada (ou seja, tornada amplamente acessível), ela, em essência, deixa de ser eficaz. O mercado capitalista, assim como as pesquisas no Google, precisa da competição por lugares limitados no topo. Essa corrida para aparecer no topo da 1ª página de uma busca no google é interessante, pois ou você precisa se inserir em uma tendência pesquisável, ou fabricar uma. De qualquer forma, não é um processo científico fiável onde os contributos garantem o resultado, embora o mito da meritocracia capitalista se baseie na crença de que seja. Na realidade, o sucesso de um empreendimento comercial é uma aposta que requer muito investimento inicial, antes de haver (e se houver) algum retorno. No pôquer, a pessoa jogadora precisa começar colocando dinheiro no jogo. Depois disso, há um cálculo cuidadoso das probabilidades de vitória e como lidar com essas probabilidades dependendo do adversário e da equidade do jogador. Só porque existe cálculo de probabilidade não significa que não seja uma aposta, e o mesmo vale para o marketing digital e o sucesso de um empreendimento capitalista. Quanto mais dinheiro o empreendimento tiver para entrar no jogo, maior será a probabilidade de os cálculos eventualmente darem lucro e também da sorte acontecer. É difícil aceitar que nos esforçamos para ‘ganhar a vida’ num mercado global que é um Casino. Em vez disso, é fácil abraçar ideias de gurus de negócios e dicas financeiras genéricas que não abordam a questão fundamental de como alcançar uma existência autêntica e gratificante nesse mundo. Quando acreditamos que existe uma fórmula e que o sucesso é todo mérito pessoal, é mais provável que continuemos tentando reproduzir o que vimos funcionar para os outros, e isso está dentro da categoria de seguir tendências. Pesquise no Google como ser relevante no Google (Language Models) O modelo BERT é aquele que prevê o final da sua frase no Gmail. Se você digitar “Como vo”, a tecla ‘tab’ adicionará “cê está?”, e “Espero”, ‘tab’, “que sim”, etc. Os resultados dessa função de preenchimento automático de texto não são apenas previsíveis e pouco originais, mas também nem sempre são factuais. As pesquisas do Google, que utilizam esse modelo, interpretam o contexto e também prevêem e geram conteúdo com base em enormes conjuntos de dados. Para ter uma classificação elevada em uma pesquisa com esse método, precisamos ser um acompanhamento previsível de um termo chave ou pergunta feita no Google. O que acabamos obtendo é uma grande quantidade de conteúdo e empreendimentos comerciais que aproveitam uma onda de pesquisas populares – todos eles competindo por um lugar de destaque. Aqui você encontrará muito clickbait e, em geral, produtos e conteúdos pouco originais, que seguem uma fórmula de marketing digital para assuntos que já provaram ser populares. Um exemplo disso pode ser visto na dica da “Amazing Money Marketer” Sherri Norris, sobre como ganhar 90 mil vendendo cadernos através do Amazon KDP. Nesse reel, Sherri mostra como um caderno preto vendeu 6 mil unidades por cerca de 15 dólares, e, com uma “matemática simples”, podemos ver que a pessoa faturou (6000x15) 90k. Em seguida, ela explica como criar um PDF no Canva, carregá-lo no Amazon KDP e acumular riqueza. Seu cálculo não leva em conta a parcela considerável dos lucros que vai para a Amazon, para impressão, envio e manuseio. Acima de tudo, não leva em conta o fato de que, sem um investimento inicial considerável em marketing, você simplesmente não venderá um único exemplar, enterrado sob um mercado hipersaturado de cadernos na Amazon. Isso foi apontado por pessoas nos comentários, que tentaram e falharam, e a solução apresentada a eles foi “você tem que alterar sua estratégia de SEO”, ou “Faça uma pesquisa na internet sobre como comercializar livros de baixo conteúdo do KDP”. Para empreendimentos de acompanhamento de tendências que seguem essa lógica, isso significa que não existe uma ciência exata para se destacar na multidão ou permanecer relevante no longo prazo. Mais importante ainda, essa lógica não aborda a realidade de que, para ganhar dinheiro, precisamos já de ter tempo e dinheiro. Nas próprias palavras de Sherri Norris, em seu aviso de isenção de responsabilidade em letras miúdas em seu “site”: “Conforme estipulado por lei, não podemos e não oferecemos nenhuma garantia sobre sua capacidade de obter resultados ou ganhar dinheiro com nossos cursos, eventos, programa de afiliados ou treinamentos em vídeo gratuitos. A pessoa comum que compra qualquer informação sobre “como fazer” [“how to”] obtém pouco ou nenhum resultado.” (ênfase adicionada.) Existem várias contas que se descrevem como “ajudando pessoas comuns a ganhar dinheiro online” ou “em casa”, muitas com o mesmo texto de isenção de responsabilidade. Esses gurus da renda passiva estão espalhados pela Internet, apenas os de maior destaque enfrentam consequências jurídicas. A tendência Stanley Quencher Tumbler No Brasil, a Croácia só é pesquisada no Google no contexto de jogos de futebol. Otimizar as pesquisas de uma publicação sobre um terremoto naquela região implicaria reestruturá-la como clickbait – ou, de alguma forma, fabricar demanda para o tema de terremotos nos Balcãs. Quando se trata de produto, ser o único do gênero só é uma vantagem quando um número suficiente de pessoas o conhece e o procura. Não há maneira mais segura de estar no topo de uma pesquisa no Google do que ter milhares de pessoas pesquisando algo que só você fornece. A questão é como levar as pessoas a fazer isso. A mania do Stanley Quencher Tumbler é um exemplo extremo de como fabricar demanda por um produto que apenas uma empresa oferece. Embora o conceito de garrafa térmica não seja exclusivo da Stanley, eles conseguiram aumentar o desejo do público por uma versão que só eles fornecem. O resultado é uma explosão de tendência do tópico “Quencher” no Google (ou um aumento impressionante nas pesquisas de termos relacionados como “Stanley” e “Tumbler”) de novembro de 2023 até hoje, para um produto que foi lançado em 2016. Alguns atribuem esse fenômeno a uma colaboração com o site The Buy Guide (TBG), que, segundo suas fundadoras, foi criado em oposição à tendência de influenciadores do Instagram. As três mães do lar brancas transformaram seu hobby de comprar presentes online em um empreendimento de sucesso, porque estavam “cansadas de ver pessoas perfeitas e fotogênicas vendendo produtos de uso diário no Instagram”. Essas mulheres meio que lideraram esse estilo particular de influência, que rejeita as personalidades ultra curadas das influenciadoras nas mídias sociais, em favor de postagens elegantes e bem pesquisadas centradas em produtos. A colaboração da TBG com a Stanley desencadeou uma tendência que alguns dizem ter saído do controle. Há violência e crime nas lojas quando novas cores são lançadas nos EUA, as redes sociais estão inundadas de colecionadores ávidos e os copos da Stanley já estão surgindo nas praias e bares brasileiros. Nem a Stanley nem a TBG seguiram um guia de marketing “como fazer” (“how to”) para alcançar vendas como essas. Ambos foram inovadores nos seus respectivos campos de produtos e serviços, mas isso por si só não explica o seu sucesso. Eles também estavam na vanguarda de uma nova estratégia de marketing. A Stanley se autodenomina a inventora da garrafa de aço térmica a vácuo em 1913, mas o conceito da garrafa térmica a vácuo foi desenvolvido por James Dewar na Escócia algumas décadas antes. Só em 2020 é que o novo presidente da Stanley, Terence Reilly, implementou claramente a estratégia de marketing do seu tempo na Crocs – utilizando “criadores de gosto” (“tastemakers”) para aumentar a demanda por uma estética de marca única. Hoje em dia, tastemakers podem ser encontrados no TikTok, e é por isso que ele deu um carro novo para uma TikToker. Essa cultura empresarial é descrita por uma funcionária como “oportunismo visionário”, onde uma oportunidade de tendência é encontrada em territórios ainda não explorados. O oportunismo visionário requer dinheiro. Um empreendedor já precisa ter dinheiro para investir em testes de estratégias de marketing que ninguém experimentou antes. Para pessoas sem dinheiro para esse investimento inicial, “how to’s” e SEO, nas palavras da Amazing Money Marketer, “obtêm pouco ou nenhum resultado”. Essas ferramentas são uma espécie de folclore que transmite os costumes capitalistas à próxima geração. Mas, como vimos nas tentativas fúteis de criminalizar a negociação com informações privilegiadas (insider trading), o mercado global não é apenas mais uma aposta do que uma ciência, é uma aposta fraudulenta. Será que esses contos e costumes deveriam continuar a ser preservados? O sucesso de um negócio, tal como a estabilidade do mercado global, não se baseia na fiabilidade dos modelos linguísticos e na previsibilidade da demanda do consumidor. Baseia-se no capital inicial, cálculos de aposta e muita sorte. O fato de que o capitalismo ainda é descrito como o único sistema que funciona, onde o sucesso financeiro se baseia apenas no mérito, parece uma tentativa desesperada de enxergar ordem no completo caos e incerteza do nosso mundo moderno. ____ Mirna Wabi-Sabi é fundadora e editora-chefe da Plataforma9, autora dos livros Anarco-Transcriação e Finge Que Isso é um Celular.

View All

Other Pages (16)

  • P9 | Community Garden

    Orchard A Amiga da Planta Avocado Cashew Jack bean Pineapple Acerola Acerola Canavalia ensiformis Trametes SITE 1 Acerola Banana Pepper Cashew Yellow flowers jack bean Pineapple Avocado SITE 2 ​ Ora Pro Nobis Tomato Pepper Cashew Flowers Pineapple Star fruit Passion fruit Great purslane, Maria-gomes jack bean Corn Tomato Ora Pro Nóbis Lemon Reduviidae Watermelon Pumpkin Pumpkin Pepper banana tree Boldo Genus Crinocerus SITE 3 Papaya Pepper broad bean Boldo Banana SITE 4 ​ The Minipond Source and concept: "Can mini ponds influence microclimates in the city? " "Viruses And Colonization: Humanity’s Hate Affair With Mosquitoes " "All That Which Mini Ponds Can Teach " Itapotihyla langsdorffii Itapotihyla langsdorffii Genus Misumenoides Itapotihyla langsdorffii Itapotihyla langsdorffii Genus Neoplea Pisauridae Snake Water lettuce and snail Minipond, part 4 Minipond, part 3 Minipond, part 2 Minipond, part 1 FLYERS print PDF Source

  • P9 | Pretend this is a cellphone

    Pretend This Is A Cellphone ◣ Finge Que Isso É Um Celular Brochura 110 páginas 110x180x8mm ISBN 9786585267014 Brochure 110 pages 110x180x8mm ISBN 9786585267014 In a world full of Fake news, fake faces, fake writers and fake artists, why not fake a smartphone? Pretend that is your skin and words, pretend this is your cellphone. In here, you will find provocations about tech innovation and traditional fascism. What are these innovations, how are they being used against the population, and how are they being instrumentalized by fascist and racist regimes? To answer these questions, Mirna Wabi-Sabi explores the definition and usage of these key terms; fascism, racism, capitalism, new digital technologies, Fintech, data monitoring and virtual vandalism. Her analysis is irreverent and places honesty above finesse. After all, how can we maintain demureness in the face of an unscrupulous system that never ceases to expand and modernize itself. —Disclaimer: It comes with an irreversible Blue light filter but there is no guarantee it will improve your sleep. Pretend This Is A Cellphone is the latest bilingual pocket book from Plataforma9, and was presented for the first time at A Feira do Livro in São Paulo, in June 2023. It includes an article originally published in English in AK Press's exuberant anti-fascist anthology called No Pasarán!: Antifascist Dispatches from a World in Crisis. Followed by an article originally published online at Le Monde Diplomatique, about the author's experience infiltrating Bolsonarista virtual groups; an article originally published in English in the academic journal CyberOrient, on digital monitoring of immigrants in the US and integration policies in the European Union; and finally, a short essay on the rise of Fintechs as they consider themselves to be at the forefront of financial inclusion and the fight against poverty. ​ I ndex Gringos and Fascism Part I: The Anti-[blank] Manual Part II: Capitalism, Fascism And White Supremacy Part III: The White Aesthetic Part IV: Conclusion ​ Virtual Vandalism and the Dispute Against Leftists Digital Monitoring as a Threat to Human Mobility The Ultra Wealthy Dream of Fintech Unicorns ​ ABOUT US Plataforma9 is a journalistic initiative that publishes article s and pocket books in several languages ​​and in several countries. So far we hav e books in Portuguese, English, Spanish and Indonesian, and we sell in Brazil, United States, United Kingdom, European Union, Australia , Mexico, Peru, Argentina and Chile, and also in Indonesia with a partner publisher called Sabate. We also offer editing, media literacy and copywriting services. Our books are the size of a smartphone, made to be portable, and read anywhere. ​ ◣ ​ Num mundo cheio de Fake news, filtros, chatbots e Inteligência Artificial, por que não um fake smartphone? Finge que aquela é a sua pele e a sua palavra; finge que esse livro é o seu celular. Nele você encontrará provocações sobre inovação tecnológica e fascismo tradicional. Quais são essas inovações, como elas estão sendo usadas contra a população, e como elas são instrumentalizadas por regimes fascistas e racistas? Para responder essas perguntas, Mirna Wabi-Sabi explora a definição e o uso desses termos-chave; fascismo, racismo, capitalismo, novas tecnologias digitais, Fintech, monitoramento de dados e vandalismo virtual. Sua análise é irreverente e coloca a honestidade acima da delicadeza. Afinal, como podemos manter o recato diante de um sistema sem escrúpulos que não cessa de expandir e se modernizar. — Isenção de responsabilidade: Esse livro vem com um filtro de luz azul irreversível, mas não há nenhuma garantia de que vai melhorar o seu sono.​ Finge Que Isso É Um Celular (Pretend This Is A Cellphone) é o mais recente livro de bolso bilíngue da Plataforma9, e foi apresentado pela primeira vez n'A Feira do Livro em São Paulo, em junho de 2023. Ele inclui um artigo originalmente publicado em inglês na antologia antifascista exuberante da AK Press chamada No Pasarán!: Antifascist Dispatches from a World in Crisis. Seguido por um artigo originalmente publicado online na Le Monde Diplomatique, sobre a experiência da autora infiltrando grupos virtuais Bolsonaristas; um artigo originalmente publicado em inglês no jornal acadêmico CyberOrient, sobre monitoramento digital de imigrantes nos EUA e políticas de integração na União Europeia; e por fim, um curto ensaio sobre o surto das Fintechs ao se considerarem a vanguarda da inclusão financeira e da luta contra a pobreza. ​ ​​ Í nd ice G ringos e Fascismo 7 Parte I: O Manual A nti-[insira opressão aqui] Parte II: Capitalismo, Fascismo e Supremacia Branca Parte III: A Estética Branca Parte IV: Conclusão O vandalismo virtual e a disputa contra ‘esquerdistas’ Monitoramento digital como ameaça à mobilidade humana Os ultra ricos sonham com unicórnios da Fintech ​ SOBRE NÓS A Plataforma9 é uma iniciati va jornalística que publica artigos e livros de bolso em diversas línguas e em diversos países. Até agora temos livros em português, inglês, espanhol e indonésio, e vendemos no Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia, Austrália, México, Peru, Argentina e Chile, e também na Indonésia com uma editora parceira chamada Sabate. Também oferecemos serviços de edição, alfabetização midiática e produção de texto. Nossos livr os são do tamanho de um smartphone , feitos para serem portáteis, e lidos em qualquer lugar. Finge Que Isso É Um Celular ◣ Pretend This Is A Cellphone R$39.00 Price View Details Pretend This Is A Cellphone ◣ Finge Que Isso É Um Celular [digital] R$9.00 Price View Details

  • P9 | Podcast (Português)

    EN Collaborations Artigos, livros de bolso e alfabetização midiática ◣ Articles, bilingual pocket books, and media literacy

View All
bottom of page